03 maio 2012

Indiegências 2012 (2)


Em parceria com a Take 


Le Skylab de Julie Delpy – Quarto filme da actriz e argumentista Julie Delpy como realizadora, Le Skylab é um mimoso filme coral sobre a família e sobre o tempo-sem-tempo das férias em família, nomeadamente o fim-de-semana de aniversário da matriarca. Há cenas de todos os tipo (cómicas, tristes, amorosas e perturbantes), o olhar da realizadora é seguro e embora nada tenha de transcendente, já vimos muito, muito, muito pior. A ver, quando estrear em sala.
  

Into the abyss de Werner Herzog – Até ao momento, o melhor filme que vimos no festival. O olhar frio, entomológico do alemão debruça-se aqui sobre um crime horrendo e, descobrimos aqui, sem sentido cometido por dois jovens texanos em 2001 e desenvolve uma leitura sobre a pena de morte, olhar esse que mantém uma posição moral e humanista mesmo que lúcida acerca das suas personagens – como Herzog afirma, num momento chave do filme, ao criminoso que é executado, o facto de achar que seres humanos não devem condenar outros à morte, não faz com que goste dele e é nesta corda-bamba que o filme se gere. Destaque também para as declarações, concomitantes e comoventes, do pároco e do guarda da prisão. A estrear em sala e a não perder de forma alguma.  


Bestiaire de Denis Coté – Pode haver muito mérito no documentário do canadiano Denis Coté, mas sinceramente não conseguimos descortinar nada nele para além de 72 minutos de imagens avulsas de animais. Enfadonho, parece, pela sua falta de sentido e de propósito, durar horas infindáveis, num pedantismo de achar que uma câmara fixa torna interessante qualquer imagem que se ponha à frente de uma câmara fixa é interessante. Como prova de que não é esse o caso, teremos sempre este excruciante filme.   


Everyone in the Family de Radu Jude– Grande surpresa! O filme do romeno Radu Jude é um belíssimo retrato da gota que faz transbordar o copo de um homem em queda, que perdeu a filha num processo de divórcio feio, que vive num apartamento espeluncoso e que não tem respeito do pai, que o vê como um cobarde. Não vamos aqui revelar o jeu de massacre a que assistimos (basta dizer que é uma espécie de Dog Day Afternoon familiar), para não tirar o prazer ao espectador, mas podemos afirmar que não só o argumento é bem trabalhado no acumular da tensão e na gestão das situações como é filmado com a mesma crueza e sentido espacial a que o novo cinema romeno nos habituou. Não fazia mal nenhum que fosse premiado e que estreasse em sala.

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